Mas, afinal, o que levaria alguém a fazer uso indevido de drogas? Quais os fatores que aumentam ou diminuem a probabilidade do consumo indevido? Ter clareza quanto a este questionamento possibilita que a atuação do terapeuta comunitário, enquanto agente de prevenção, possa ser potencializada.
O terapeuta comunitário pode se apropriar deste papel com maior consciência de suas possibilidades de atuação e também de importância. Neste contexto, a terapia comunitária caracteriza-se, também, como um espaço de prevenção, de auxílio no tratamento e reinserção social de usuários e dependentes químicos e apoio às famílias.
Fatores de Risco e de Proteção
Fatores de risco para o uso indevido de drogas são características ou atributos de um indivíduo, grupoouambientedeconvívio social que contribuem, em maior ou menor grau, para aumentar a probabilidade deste uso. Não existe um fator único determinante para o uso. Assim, para cada domínio da vida (individual, familiar, escolar, pares, comunitário) pode haver fatores de risco, além de fatores de proteção.
Os fatores de proteção são característi- cas ou atributos presentes nos diversos domínios da vida que minimizam a probabilidade de um indivíduo fazer uso indevido de drogas.
O trabalho comunitário, em especial a terapia comunitária, enfatiza a importância de reconhecermos os potenciais e competências existentes em cada pessoa, nos grupos e na comunidade. Neste sentido, a prevenção direciona-se ao reconhecimento, à valorização, ao reforço dos fatores de proteção por meio da otimização dos recursos pessoais, grupais e comunitários existentes.
Como identificar os Fatores de Risco e de Proteção na Prevenção do Uso Indevido de Drogas?
Os fatores de risco e de proteção podem ser identificados em todos os domínios da vida: no próprio indivíduo, na família, na rede de amizades, na escola ou no trabalho, na comunidade ou em qualquer outro nível de convivência sócio-ambiental. É importante notar que estes fatores não ocorrem de forma estanque, havendo grande possibilidade de que atuem de forma combinada, podendo ampliar a variabilidade de influências que podem ser exercidas sobre uma pessoa.
Se existem fatores de risco atuantes em cada um dos domínios citados, também podem ser identificados fatores específicos de proteção. A combinação dos fatores de risco nestes diversos níveis pode tornar uma pessoa mais ou menos vulnerável para fazer uso indevido de drogas.
Os fatores de risco e de proteção devem ser compreendidos na realidade das pessoas envolvidas, pois um fator de risco para um pode ser de proteção para outro.
Por exemplo, uma pessoa que convive com um alcoolista e que por isto vivencia os problemas associados pode decidir por não beber; enquanto alguém na mesma situação pode ver o beber demasiado como algo natural e fazer uso abusivo do álcool.
Vejamos, a seguir, exemplos de fatores de risco e de proteção em cada um
dos domínios da vida:
FATORES DE RISCO
Uso de álcool e outras drogas pelos pais ou familiares
Isolamento social entre os membros da família
Frágeis laços afetivos entre os membros da família
Falta de estímulo da família para os estudos, lazer e outras práticas laborais
Relações conflituosas, excessiva- mente autoritárias ou permissivas entre os membros da família
Falta de diálogo e de comunicação entre pais, cônjuges, companheiros e filhos
Ausência e descontinuidade de critérios na aplicação de regras familiares
Falta de interesse dos pais pelas conquistas dos filhos e na partici- pação de seus sucessos e fracassos
Incoerência e incongruência dos pais quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos
Expectativas negativas em relação aos filhos ou mesmo aos cônjuges e companheiros
Pais que não fornecem um bom modelo, não sabendo transmitir as normas e valores morais e sociais socialmente aceitáveis
Tolerância com relação ao uso de drogas pelos jovens
Ausência de normas e limites claros no ambiente familiar